A partir de meados do século XV, floresceu na Ilha da Madeira o cultivo da cana-de-açúcar e prosperaram os engenhos de açúcar - o célebre "ouro branco", trazido da Sicília por ordem do Infante D. Henrique por volta de 1425. Daí nasce o mel-de-cana, ingrediente principal do bolo de mel, um doce que acompanha os madeirenses desde tempos imemoriais e conserva-se intacto durante mais de um ano graças ao seu elevado teor de açúcar.
Tudo indica que o bolo de mel tem origem numa receita do convento franciscano masculino de Monchique no Algarve e deverá ter chegado à ilha por mão de Frei Jordão do Espírito Santo, em finais do século XV. Terá sido na ordem feminina de Santa Clara, no Funchal, que se refinou a receita deste bolo, entre os séculos XV e XVI, onde as freiras introduziram especiarias vindas da Índia, como o cravo e a canela, numa fusão que unia o exotismo oriental ao património conventual português.
A tradição fez com que, em cada 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, o bolo fosse confecionado dando início aos preparativos para o Natal. Sempre presente nas festas das famílias madeirenses, era partido à mão, num ritual que reforçava os laços domésticos e espirituais, passando aos mais novos a memória desses momentos de partilha e afeto.
Com o passar dos séculos, este doce, antes reservado às classes sociais mais elevadas — o "bolo rico", adornado com nozes e amêndoas — chegou a todas as classes da sociedade madeirense, numa profusão de receitas cujos ingredientes variavam de acordo com o poder económico da família. O seu sabor profundo e escuro, com cravinho, erva‑doce, outras especiarias e citrinos, tornou-se símbolo da tradição regional.
Hoje, ao saborear o bolo de mel-de-cana, podemos lembrar da azáfama nas cozinhas, de engenhos coloniais, do pulsar do comércio do açúcar e do trabalho árduo nos “poios” da ilha da Madeira. Cada pedaço liga-nos a uma herança rica de história e identidade.
Preservar este costume é manter acesa a chama cultural que nos define, garantindo às próximas gerações um legado de sabor.
texto apoiado por AI com referências bibliográficas do Museu Etnográfico da Madeira
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